Em nossa cultura ocidental, a ideia de morte vem acompanhada de grande pesar, medos e angústias, que, muitas vezes, nos dificultam encará-la como um processo natural da condição humana.
Por que nos sentimos tão ameaçados frente à morte de um ente querido?
Quando perdemos uma pessoa próxima, além da angústia e tristeza que a saudade nos impõe, também nos sentimos ameaçados frente à sua morte. Essa sensação nos aproxima da nossa própria condição humana e ao fato de que a morte também nos permeia e, fatalmente, nos atingirá um dia. Isso nos torna ainda mais vulneráveis, em um momento que já é tão difícil.
O que é o Luto?
Para Freud “luto é a reação à perda de um ente querido, à perda de alguma abstração que ocupou o lugar de um ente querido, como o país, a liberdade, o ideal de alguém e assim por diante”.
Aqui, vamos nos ater à perda de um ente querido. É importante ressaltar que o luto é um processo que se inicia com a perda propriamente dita e se desenrola até o período de sua elaboração, ou seja, quando o indivíduo enlutado volta-se, novamente, ao mundo externo.
Para a psicanálise, desde que o luto seja superado, ele não é considerado uma condição patológica, mesmo que traga consigo grandes mudanças no estilo de vida de quem o vivencia, tal como a perda de interesse por atividades do cotidiano e pelo convívio social.
Como identificar o processo de enlutamento?
Cada indivíduo reage ao luto de forma distinta, variando de acordo com sua estrutura emocional, suas vivências e sua capacidade para lidar com perdas. É fundamental que esse processo de enlutamento seja vivenciado até que ele seja superado, para que a dor da perda não fique reprimida e se manifeste posteriormente como algum outro sintoma. Esse é um processo lento e sua melhora é gradual, com período de duração variável para cada pessoa.
O processo de enlutamento é, normalmente, vivenciado por meio de um ou mais sintomas, listados abaixo:
• Entorpecimento – O indivíduo recentemente enlutado sente-se descrente, em choque, atordoado, desamparado. Isso acontece devido à dificuldade em aceitar a perda.
• Negação – Se apresenta como mecanismo de defesa frente a essa situação tão dolorosa, onde a pessoa se nega a aceitar ou acreditar que seu ente tenha falecido.
• Anseios - Crises intensas de choro e dor profunda. A perda pode gerar um grande anseio por reencontrar a pessoa morta. A impossibilidade desse reencontro pode gerar crises intensas de choro e dor profunda, assim como uma preocupação excessiva com os pertences e objetos que tornem sua lembrança viva.
• Culpa – Em muitos casos, esse sentimento é bastante presente. O enlutado pode, ao relembrar alguns eventos vivenciados com a pessoa morta, achar que deveria ter agido de forma diferente nessas ocasiões, ou, até mesmo, que poderia ter evitado sua morte.
• Raiva, desespero, falta de prazer e hostilidade - Muitas vezes, o enlutado se volta contra amigos, familiares, médicos, Deus e, quando há o sentimento de culpa, contra si mesmo. Ele pode vir a se afastar dos amigos e do convívio social, assim como perder o prazer e interesse no mundo externo, tanto em atividades novas quanto costumeiras.
Como superar?
A recuperação do luto se inicia quando o enlutado passa a construir um novo tipo de vínculo com a pessoa morta, fazendo com que a relação seja preservada em outro patamar, ou seja, quando o indivíduo falecido é internalizado, continuando, assim, a viver no mundo interno do enlutado.
O sofrimento começa, então, a diminuir e ele torna a resgatar laços sociais, retomando vínculos antigos e construindo novas relações. Podem ocorrer recaídas, principalmente em datas que lembrem o indivíduo falecido, como aniversários de nascimento ou de morte, porém, o apoio e a compreensão, tanto dos amigos quanto dos familiares, ajudarão a fazer do processo de enlutamento algo mais suportável.
Com o tempo, o enlutado volta a se inserir no mundo externo de modo pleno e, normalmente, com uma capacidade maior e amadurecida de suportar perdas.
Fonte: Revista Medicando - Adaptado.