Viva, apesar de Trabalhar!





A tortura começa ao acordar. Cristina, 32 anos, vendedora, levanta-se da cama querendo voltar a dormir, e sai de casa para o trabalho como se estivesse a ir para um campo de batalha. O problema com o chefe, o stress cotidiano, a preocupação com os filhos e o marido geram uma pressão tão insuportável que a sua saúde mental e física começou a dar os primeiros sinais da crise. Não suportava mais: “Chorava constantemente, a minha saúde ficou abalada, todo o meu organismo sofreu com o clima do meu trabalho. Acabei tendo que ir ao médico”, lembra a Cristina, que agora está de baixa por problemas arteriais, depressão e alteração da tiróide.
 
Se você se identificou com a situação desta profissional saiba que não está sozinho no barco. Quem sofre com injustiças no trabalho, atribuídas geralmente ao superior imediato, tem consciência de que todos os aspectos da vida são atingidos pelo iceberg da insatisfação. De tão importante, o assunto tornou-se um tema de pesquisa no Reino Unido. Uma equipa do Buckinghamshire Chilterns University College, na Grã-Bretanha, separou uma turma de enfermeiras de um hospital para realizar o teste. O que era senso comum ficou comprovado cientificamente: as pessoas que se sentem injustiçadas no trabalho sofrem um aumento de tensão arterial e são levadas à depressão.

No estudo, as enfermeiras foram divididas em dois grupos: um não considerava os superiores injustos e o outro pensava de forma bem diferente. Não é difícil entender o que aconteceu. Depois de medir a pressão arterial das participantes a cada 30 minutos durante doze horas e três dias de trabalho, foi constatado um aumento médio de 15 por 7 na pressão arterial das enfermeiras que consideravam os superiores injustos. Os especialistas garantem que um aumento de 10 por 5 na pressão arterial, é o suficiente para garantir indesejáveis 16% de risco de problemas cardíacos e assustadores 38% na probabilidade de um derrame.
 
Muitos funcionários vão guardando a mágoa, a raiva e a sensação de desagrado. “No fundo, eu não tenho ódio ao chefe, à pessoa em si, mas sim às atitudes que ele toma. Como trabalho com vendas e no mesmo sector trabalha a mulher dele, é difícil aguentar que ela receba mais privilégios que os outros. Essa injustiça fez-me adoecer”, indigna-se a Cristina. Ela acredita que teve parte da culpa por não ter tomado uma decisão antes, mas pondera: “Se falar, corro o risco de ser demitida, e se não, a minha saúde é que fica comprometida. Deveria ter pensado mais na minha saúde e na minha família, que sofreu comigo.”

Trabalho aborrecido
O cardiologista e professor Renato Maciel, da Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc), Brasil, adverte para o fato de que o coração pode ser vítima também quando a trama gira em torno de um trabalho aborrecido, mesmo que haja bom relacionamento com o chefe. Quem tem um ofício considerado enfadonho e não tem qualquer prazer na atividade que desempenha, corre grande risco de sofrer um ataque cardíaco.

Alterar a situação
Para quem costuma dizer que consegue separar o trabalho da vida pessoal e da saúde, fique alerta: os trabalhadores devem prestar mais atenção aos sinais do corpo antes que seja tarde. Se não dá para trocar de trabalho ou de chefe, tente olhar com mais positivismo para os obstáculos do dia-a-dia. 
Os pessimistas baterão o pé e dirão que não, mas é só procurar, e verão que há sempre algo de bom em cada situação e cada pessoa. Parar um tempinho durante o expediente para alongar o corpo e convidar o superior para a atividade – porque não? – pode ser uma alternativa para parar o mau humor.
 
Já para os que estão no outro prato da balança, os chefes, é interessante pensar mais de duas vezes antes de atingir um funcionário com um comentário maldoso. Além, é claro, de lembrar de pedir a opinião dos subalternos em situações diversas também favorece uma boa relação. Talvez seja desconfortável a princípio, mas ser humilde, elogiar e motivar quem depende das suas ordens rende muito mais do que exigir, fiscalizar ostensivamente e repreender por qualquer falha. 

Fonte: Revista Saúde e Lar  - Adaptado