Depressão pós-parto: Tristeza fora de Hora

Uma sensação de inadequação ao seu novo mundo, vontade de chorar, angústia. E tudo isso não passa quando a mulher olha para aquele rostinho lindo no berço. Até piora. A depressão pós-parto atinge 12% das mães em todo o mundo. Muitas tentam esconder o sentimento, agravado pela vergonha de não se adaptar aos padrões de maternidade feliz mostrados na televisão, mas “Fingir que não está acontecendo nada é o pior que se pode fazer”, diz o psiquiatra Amaury Cantilino, Doutor em Neuropsiquiatria e coordenador do Programa de Saúde Mental da Mulher da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o médico estuda depressão pós-parto há dez anos e já tem vários trabalhos publicados sobre o assunto.

Quais as principais causas da depressão pós-parto?
A principal causa é biológica. Logo depois do parto há uma queda abrupta nos níveis de estrógeno, o hormônio feminino. No final da gravidez ele está centenas de vezes mais alto do que no caso de uma mulher não grávida, mas nas primeiras 48 horas depois do parto, volta aos níveis da pré-gravidez. Sabemos que há uma relação íntima entre os níveis de estrógeno e de serotonina, o neurotransmissor envolvido no humor. Daí a depressão. Juntase ao desequilíbrio hormonal o fator social. A mulher fica totalmente envolvida com os cuidados com o bebê, o corpo ainda não voltou ao seu normal, muitas se preocupam com o mercado de trabalho, outras sentem que perderam o protagonismo que tinham durante a gestação. É muita mudança. Se a mulher passar bem por ele, deve encarar bem qualquer situação.

Quem é mais suscetível a apresentar o quadro?
As mulheres que vivem situações estressantes durante a gravidez e as que recebem menos apoio são bem mais suscetíveis. Por fim, quem costuma ter tensão pré-menstrual (TPM) intensa, principalmente com sintomas afetivos como irritação e sensibilidade, também está mais propensa à depressão pós-parto, bem como mulheres que passaram por gravidez múltipla.

Quem teve depressão na primeira gravidez terá também na segunda?
A chance é bem maior. E quem não teve na primeira gravidez pode ter na segunda.

É possível perceber algum sintoma durante a gravidez?
Sim. Entre eles estão preocupações excessivas, medo intenso em relação ao parto, medo de assumir responsabilidade de mãe. A tensão muscular e dificuldade para se concentrar também são indícios.

Há alguma coisa que possa ser feita ainda durante a gravidez?
Algumas atitudes podem ajudar a acalmar a futura mãe e, assim, reduzir a chance de a doença aparecer. Vale fazer atividades que possam reduzir a ansiedade e buscar um aconselhamento médico e psicológico durante a gestação e após o parto.



Como fica a relação com o bebê?
O contato é menos afetuoso. A maioria das mães que sofrem com a doença apresenta pensamentos obsessivos, como jogar o bebê pela janela. Ela não quer pensar assim, claro, e isso causa angústia e faz com que se afaste do bebê, dificultando o vínculo da mãe com o filho, havendo como consequencia um impacto no desenvolvimento do bebê.

A mãe pode pôr em prática os pensamentos obsessivos?
Não, isso nunca acontece nos casos de depressão pós-parto. Há um quadro, muito mais grave, chamado psicose puerperal, que pode levar a mulher a fazer algo que fira o bebê. Ocorre em 0,2% das gestações.

Como se trata a depressão?
O tratamento envolve duas frentes: a farmacológica e a psicoterápica. Dentre os tipos de psicoterapia, as que parecem funcionar melhor são a cognitiva e a interpessoal. A cognitiva envolve os pensamentos que temos sobre as mais diferentes situações. Por exemplo, a mulher com depressão não consegue ficar sozinha com o bebê, pois isso faz que pense uma série de coisas que a deixam ainda mais deprimida. A terapia cognitiva ajuda a mulher a reestruturar esses pensamentos. Já a interpessoal foca nas relações sociais. As terapias funcionam para quem tem depressão leve. As que têm moderada ou grave, o que acontece em cerca de 5% dos casos, precisam também usar medicação. Existem remédios que podem ser tomados enquanto se amamenta sem afetar o bebê. O ideal é buscar orientação médica e jamais se auto-medicar.

Até quanto tempo depois do parto a depressão pode aparecer?
Até um ano, mas o mais comum é que surja algumas semanas depois do fim da gravidez.

Como o pai pode ajudar?
Sobretudo com muita compreensão. É comum a mulher ficar aborrecida com o marido. Afinal, a vida dele continua mais ou menos a mesma, ele sai para trabalhar, dorme bem. Além disso, ele nunca deve pensar que é uma bobagem, pelo contrário, deve ajudá-la a se recuperar desse problema.

Quando é hora de procurar ajuda?
Alguns indícios mostram que a mãe precisar consultar um médico.
• Angústia.
• Medo de ficar sozinha com o bebê.
• Dificuldade para amamentar.
• Pensamento recorrente de agredir o bebê, embora não se tenha intenção alguma de fazer isso.
• Choro constante.
• Dificuldade no contato com o marido e familiares.
• Sensação de aprisionamento.
• Excesso de preocupação.
• Dificuldade para dormir, mesmo quando o bebê adormece.
• Pensar que seria melhor não ter tido o bebê.



Depressão pós-parto pode ser facilmente tratada, procure ajuda!